2º RESIDÊNCIA FORMIGUEIRO
DIRNEI PRATES
Residência artística: 28.10 – 28.11
Instituto Remanso
Endereço: R. Santo Antônio, 366 – Independência, Porto Alegre – RS, 90220-010
https://www.instagram.com/remanso.br/
Abertura da exposição – Resultado da Residência
28.11 – 02.03.2025
Galeria Augusto Mayer (CCMQ)
A segunda edição da Residência Formigueiro, uma iniciativa do Festival Kino Beat, dá continuidade ao seu formato de pesquisa e criação artística, que se estabelece a partir das especificidades de Porto Alegre. O nome da residência mantém-se o mesmo, apesar da mudança de um dos seus pilares de estudo e relação. Antes, as formigas nomearam a residência e conduziram pela cidade os artistas e as suas produções na primeira edição. Agora, os insetos dão lugar ao Guaíba, como parceiro na investigação de histórias sobre a capital. Para além da celeuma do Guaíba enquanto rio ou lago, pensaremos nele como um corpo hídrico único (Guadagnin, 2024), que apresenta características dos dois ecossistemas e que muda com o tempo. Mesmo a taxonomia geográfica em disputa, não é capaz de abarcar toda a singularidade do Guaíba, Guahyba, gua-y-be, que por sua etimologia tupi, deveria nos chamar a atenção para outras funções e filiações, que as suas águas e seus habitantes, tem para outros humanos e suas distintas cosmologias.
O desafio de pensar o Guaíba, e a sua relação com a cidade em 2024, deve ir adiante de sua recente face trágica das enchentes de maio. Por óbvio, a dimensão dos fatos e as suas razões climáticas, exacerbadas pela ação de determinados grupos humanos, devem impactar a percepção sobre o que é viver às margens de um corpo hídrico poderoso. As águas invadem a cidade de uma cidade que invadiu as águas. Quantas histórias foram apagadas e escritas com esse vai-e-vem de décadas passadas, deste ano, e de um possível futuro, se a cota de alagamento resolver subir? Estaremos sempre à mercê de eventos climáticos extremos, potencializados por humanos e seus despreparos? Que outras histórias queremos ler e escrever sobre Porto Alegre e sua população, emaranhada com o Guaíba, e suas entidades, bichos, lodo, pedregulhos, ilhas, matéria orgânica, e lixo?
É a partir da arte, esse campo permeável que se contamina por tantos outros campos, disciplinas e áreas para criar histórias em linguagens e tintas múltiplas, que a residência formigueiro produzirá suas próprias narrativas sobre o habitar a cidade-guaíba. As mutações do clima desafiam-nos a repensar o espaço que as nossas sociedades têm atribuído à arte. A criatividade, o pensamento crítico, a troca, a transcendência, a relação com o outro e com a história, são valores intrínsecos à prática artística que já se provam de vital importância para o futuro dos humanos (Bourriaud, 2021). Essas características, podem ser um indicativo dos caminhos e respostas, em permanente construção, sobre o lugar da arte em uma época de acelerada transição ambiental, e sobre os quais a residência artística poderá especular. Embora não se possa evocar certezas, acreditamos que as práticas artísticas têm uma vocação particular para apontar caminhos mais críticos, atentos e sensíveis aos desafios de se viver no tempo das catástrofes (Stengers, 2015).
A lei municipal portoalegrense no 7.767, de 17 de janeiro de 1996, institui o “Dia do Rio Guaíba” no último domingo do mês de novembro de cada ano; já a lei no 10.904, de 31 de maio de 2010, que institui o calendário de datas comemorativas, redefine a data como apenas “Dia do Guaíba”. As indefinições sobre a sua classificação afetaram até a nomeação da data, que aparentemente a cidade desconhece e não comemora. Uma das premissas da residência é festejar esse corpo hídrico, seja no último domingo de novembro ou durante quase todo esse mesmo mês, em que os artistas estarão em Residência para celebrar, como for possível, junto à cidade, suas histórias, e o rio, como prefiro chamar.
A programação completa da Residência, que inicia em 28 de outubro e se encerra em 28 de novembro com uma exposição coletiva, inclui ações formativas voltadas para os residentes e o público em geral. O Instituto Remanso será o porto seguro para os artistas e atividades complementares durante o mês de atividades. Os resultados das pesquisas e criações serão exibidos na Galeria Augusto Meyer do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, na Casa de Cultura Mario Quintana.
Dirnei Prates
Desde 2007, utiliza apropriações em seus trabalhos em vídeo e fotografia, procurando nestas imagens, absorvidas quase sempre do seu entorno imediato, alguns padrões que evidenciem suas contradições, suas possibilidades de subleituras e interpretações pessoais. Desde 2006, atua no coletivo “Cine Água” em parceria com o artista Nelton Pellenz. Participa do MAC Encontra os Artistas, promovido pelo grupo de estudos em crítica e curadoria do Departamento de Artes Plásticas da USP, recebe indicação ao Prêmio PIPA, e é um dos dez artistas destaque da Bolsa Iberê Camargo 2012. Em 2017. publica “olhos vermelhos” através da Editora Moinho Edições Limitadas. Foi um dos curadores do 14º Cine Esquema Novo – Arte Audivisual Brasileira e do Fresta – Mostra Audiovisual Experimetal. Entre as exposições recentes estão “A Fotografia na Coleção de Arte da Cidade / CCSP-SP, Trindade do Tempo – ou, um Torus / MARGS-RS e Haverá Consequências / Fundação Vera Chaves Barcellos. Participa das residências artísticas “ Casco” e “Torus Residência”. Vive e trabalha em Porto Alegre.